quinta-feira, julho 28, 2005

Há alguns dias fiz uma seleção de filmes que devem dar o quê falar neste segundo semestre e deixei de lado quatro superproduções que vão duelar pelo topo das bilheterias no final do ano. Vou falar um pouco sobre elas agora.
- Harry Potter e o Cálice de Fogo. Dirigida por Mike Newell, a quarta aventura do menino-bruxo vai agitar as bilheterias do mundo inteiro a partir de novembro - a estréia no Brasil está prevista para 25 de novembro. Com os personagens mais amadurecidos, este novo filme deve seguir a trilha mais dark que já estava presente em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004). A grande expectativa gira em torna da aparição de Lord Voldemort, interpretado pelo sempre competente Ralph Fiennes. Mais informações no site oficial do filme, em português.
- O novo filme de Steven Spielberg finalmente ganhou um nome oficial: Munique. O roteiro é baseado em fatos reais e tem assinatura de Tony Kushner, responsável pela mini-série Angels in America. O filme conta a dramática história do esquadrão secreto israelense designado para localizar e assassinar 11 palestinos que se acreditava terem planejado o massacre de 1972 em Munique - e o preço que a equipe e o homem que chefiou esta missão de vingança tiveram de pagar. Liderado pelo excelente Eric Bana, o elenco também conta com as presenças de Daniel Craig, Geoffrey Rush, Mathieu Kassovitz e Ciarán Hinds. A expectativa é de que Munique chegue às telas americanas no final de dezembro.
- Peter Jackson realiza seu sonho de adolescência para comandar a superprodução King Kong. No elenco, Naomi Watts, Adrien Brody, Jack Black e Andy Serkis. Estréia em 14 de dezembro no Brasil e tem tudo para ser uma das maiores bilheterias do ano.
- As Crônicas de Narnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Chega às telas do mundo todo em 9 de dezembro mais uma adaptação de um clássico da literatura para os cinemas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os irmãos Peter, Susan, Edmund e Lucy, separados dos pais em meio aos ataques nazistas a Londres, são mandados para o interior. Lá, eles descobrem um guarda-roupa mágico que leva ao maravilhoso mundo de Nárnia, onde eles vivem várias aventuras. No elenco, Tilda Swinton, Rupert Everett e Jim Broadbent. Liam Neeson empresta sua voz ao leão Aslan. A direção fica por conta do neozelandês Andrew Adamson, o mesmo de Shrek 1 e 2. Mais informações no site oficial do filme.
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Ótima notícia: Lavoura Arcaica (Luiz Fernando Carvalho, 2001) finalmente chega às locadoras. Depois de 4 anos de espera, a Europa Filmes preparou o lançamento do filme para locação a partir do dia 13 de setembro. Nos extras, um making of de 57 minutos. Espero que Lavoura Arcaica chegue logo também para a venda. Trata-se de um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos.
Música do dia: Friend is a Four Letter Word, Cake

domingo, julho 24, 2005

Amor à Flor da Pele (Wong Kai-War, 2000)
Cinemas vazios são tristes. Principalmente quando o filme é bom. E são mais tristes ainda quando o filme é incrivelmente bom, mas não tem nenhuma chance de ser apreciado pelo grande público. Pois eu finalmente consegui ver Amor à Flor da Pele (um cult chinês de grande sucesso entre os críticos), arrastei minha tia para ver comigo na Usina, e não é que estávamos sozinhas no cinema? Só nós duas na Sala P.F. Gastal (até ficamos trancadas na saída porque não tinha mais ninguém na Usina). Uma pena porque Amor à Flor da Pele é um grande filme. Um pouco paradão para os padrões ocidentais, mas belíssimo do início ao fim. Wong Kai-War sabe como poucos criar atmosferas e aqui ele está no melhor de sua forma. A chuva, a fumaça, as estampas dos vestidos, as paredes, as cortinas, a música, a iluminação, todos são elementos que compõem uma experiência cinematográfica impressionante, na qual a sutileza e a a elegância contrastam o tempo todo com a tensão (sexual?) entre os dois protagonistas. E a câmera de Kai-War se move com tanta delicadeza e precisão que temos certeza de que o diretor sabe muito bem onde está indo. A edição, por outro lado, prima pela lentidão, exceto na cena em que uma das personagens principais está nervosa e perturbada; aí, a edição segue o ritmo dos sentimentos da personagem: é rápida, perturbada, nervosa. Por tudo isso, o filme já seria esplêndido e olha que eu nem falei em Maggie Cheung e Tony Leung. Ambos estão fantásticos como dois vizinhos que criam uma amizade depois de descobrir que seus conjugês são amantes. O filme peca um pouco na sua parte final, em que a trama fica um pouco confusa, mas ainda assim trata-se de uma experiência imperdível. Amor à Flor da Pele já existe em DVD, não percam! Nota: A+
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Agora, um apelo: assistam Veronica Mars. Terças-feiras, às 17hs, na TNT, com reprises aos sábados ao meio-dia.
Música do dia: Quizás, Quizás, Quizás, Nat King Cole. (Está na trilha sonora do Amor à Flor da Pele)
Dica de filme: (em clima oriental) O Banquete de Casamento (Ang Lee, 1993)

sexta-feira, julho 22, 2005

O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisenstein,1925)
Existem algums filmes que todo cinéfilo é obrigado a ver. O Encouraçado Potemkin é um deles. Considerado por alguns críticos especializados como o filme mais importante da história, Potemkin é uma aula de cinema em quase todos os seus aspetos. A obra-prima de Eisenstein conta a história do motim do encouraçado Potemkin, que viajava pelos arredores da cidade de Odessa (na atual Ucrânia), no ano de 1905. Para os socialistas russos, esse motim foi um pequeno ensaio para a Revolução Russa de 1917. Feito em 1925 (ou seja, na comemoração de 20 anos do acontecido), o filme é claramente um instrumento de propaganda soviética. E, no entanto, Eisenstein é tão genial que consegue transformar um filme de propaganda estatal num dos maiores clássicos do cinema. Mais do que uma trama politicamente engajada, Potemkin é uma exuberência de qualidade técnica impressionate, desde a edição, passando pela trilha sonora e pelo uso de figurantes até a direção. Passados 80 anos de estréia, O Encouraçado Potemkin certamente é um dos filmes mais estudados e celebrados do cinema, servindo de referência em vários outros filmes. Prestem atenção principalmente no contraste entre os momentos de rápido corte com o lirismo de algumas passagens. Brilliante. Nota: A+
Gotinhas:
- Os produtores de Syriana voltaram atrás, e o filme, que havia sido adiado para 2006, terá sua estréia em 23 de Novembro de 2005, nos EUA. Drama com George Cloonney e Matt Damon nos papéis principais, Syriana é o segundo filme do roteirista Stephan Gaghan, que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Traffic (2000).
- Uma notícia um pouco estranha: P.T. Anderson está ajudando Robert Altman a dirigir seu novo filme. Como andaram circulando fotos de Altman numa cadeira de rodas, especula-se que a saúde precária do lendário diretor americano seja responsável pela súbita ajuda de Anderson. A Prairie Home Companion conta a história de um grupo de músicos e sua equipe técnica, enquanto eles se preparam para uma última apresentação. No elenco, Meryl Streep, Lindsay Lohan, Lily Tomlin, Michelle Pfeiffer, Kevin Kline, Woody Harrelson, entre outros.
Música do Dia: Smile Like You Mean It, The Killers
Dica de Filme: Os Intocáveis (Brian De Palma, 1987). Neste filme, De Palma faz uma homenagem à famosa cena da escadaria de Odessa de O Encouraçado Potemkin.

quarta-feira, julho 20, 2005

Wong Kar-Wai e Nicole Kidman
Para quem mora em Porto Alegre, esse final de julho reserva boas oportunidades para quem gosta de cinema de qualidade. Duas mostras especiais trazem vários filmes interessantes de volta às telas da capital. A Sala P.F. Gastal (Usina do Gasômetro, 3° Andar) apresenta vários filmes do diretor chinês Wong Kar-Wai, um dos responsáveis pela visibilidade internacional alcançada pelo cinema de seu país na última década. O ciclo reúne quatro filmes: Amores Expressos, Anjos Caídos, Felizes Juntos e Amor à Flor da Pele, e fica em cartaz até o dia 24 de Julho. Já no Santander Cultural, a mostra "Nicole Kidman - A Última Estrela" traz 6 filmes da atriz. São eles: Dogville, As Horas, Os Outros, Revelações, Reencarnação e Mulheres Perfeitas. A mostra vai até o dia 31 de Julho, sempre nos horários das 17hs e 19hs.

domingo, julho 17, 2005

De olho no segundo semestre
Fiz uma pequena seleção de alguns filmes que imagino que podem chamar a atenção neste segundo semestre de 2005:

- Memoirs of a Gueisha. Novo filme do diretor Rob Marshall, baseado no romance homônimo. Com Gong Li, Zhang Ziyi, Ken Watanabe e Michelle Yeoh. Estréia em 23 de Dezembro nos EUA.

- Proof, de John Madden (de Shakespeare Apaixonado), com Gwyneth Paltrow, Anthony Hopkins, Hope Davis e Jake Gyllenhaal. 16 de Setembro nos EUA.

- Brokeback Mountain, dirigido por Ang Lee, com Jake Gyllenhaal e Heath Ledger nos papeis de dois cowboys que se apaixonam. Deve causar polêmica. Estréia em 9 de Dezembro nos EUA.

- Jarhead, drama de guerra dirigido por Sam Mendes, com Jake Gyllenhaal (novamente ele!), Peter Sarsgaard e Jamie Foxx. Chega aos cinemas americanos em 11 de Novembro.

- Elizabethtown, nova comédia romântica de Cameron Crowe, estrelando Orlando Bloom, Kirsten Dunst e Susan Sarandon. Programado para 14 de Outubro.

- The New World. O recluso Terrence Malick volta a dirigir um filme. Dessa vez, ele conta a história da chegada dos europeus ao continente americano, com Colin Farrel, Christian Bale e Chistopher Plummer. 9 de Novembro nos EUA.

- Walk the Line. Cinebiografia do músico Johnny Cash, com Joaquin Phoennix e Reese Whiterspoon. 18 de Novembro nos EUA.

- Broken Flowers. De Jim Jarmusch, com Bill Murray, Julie Delpy, Tilda Swinton, Jessica Lange, Sharon Stone e Francis Conroy. Estréia em 5 de Agosto nos EUA.

sábado, julho 16, 2005

A Queda (de Oliver Hirschbiegel, 2004)
Finalmente reuni minhas forças e abocanhei uma oportunidade de ver esse filme. Na Alemanha e em outros lugares, A Queda foi muito criticado por ter ‘humanizado’ a figura odiosa de Hitler. Pois, surpresa, o ditador sanguinário também era um homem. E é justamente aí que mora o perigo. Seria muito mais fácil e simples classificar Hitler, Goebbels e seus comparsas nazistas como máquinas de matar ou vilões de histórias infantis, em que o maniqueísmo é parte natural da própria trama. Não, no mundo real, as coisas são bem mais complexas e profundas, e, por isso mesmo, bem mais assustadoras. Infelizmente, Hitler não era um robô, um alienígena, um ser de outro mundo. Ele era sim um fanático, um fundamentalista, um homem sedento pelo poder e com uma idéia fixa na cabeça: os fracos e os judeus devem ser exterminados. A cena em que ele discursa durante um jantar falando sobre a compaixão é um dos momentos mais perturbadores que já vi no cinema. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que mostra uma relação afetiva do ditador com sua secretária, ‘humanizando-o’, diriam alguns, o filme não titubeia em mostrá-lo como louco, com seus discursos furiosos, marcados pelo ódio e pela intolerância. A impressionante interpretação de Bruno Ganz realça cada aspecto mínimo do caráter de Hitler, construindo um ser assustador e demente.

Eu queria falar um pouco também sobre Magda Goebbels, esposa do infame Joseph Goebbels. Magda Goebbels matou cada um dos seus filhos (numa cena absolutamente inquietante) porque não conseguia imaginá-los num mundo sem o ‘nacional-socialismo’ (ou seja, o nazismo e a sua sede por destruição). Seria natural descrevê-la como um monstro, que odeia seus filhos, mas o surpreendente (conforme mostra o filme) é que ela ama sim os filhos, tem orgulho deles, e, no entanto, envenena-os em nome de sua crença, do seu fanatismo pelo Füher e pelo nazismo. Isso é assustador.

Num momento em que o mundo regride décadas e décadas cada vez que civis são mortos em nome do fundamentalismo religioso (veja bem, seja por obra de fundamentalistas islâmicos, seja por obra de fundamentalistas cristãos protestantes instalados na Casa Branca), A Queda é um filme obrigatório para entender como o fanatismo e a intolerância podem destruir nações inteiras. Essa foi a tragédia da 2a Guerra Mundial. E é essa a mesma tragédia dos dias atuais.

Nota: A

sexta-feira, julho 15, 2005

Perdidos no meio do caminho
Uma coisa que me irrita muito quando o assunto é cinema é essa estranha mania de fazer com que os filmes “independentes” demorem séculos para chegar nos cinemas brasileiros mesmo quando são sucessos de crítica, enquanto as superproduções descerebradas chegam aqui no mesmo dia em que estréiam lá (como O Quarteto Fantástico, por exemplo). Esse primeiro semestre de 2005 já reservou alguns filmes que parecem terem se perdido no caminho até o Brasil. Eu já estou de olho em:

- Hotel Ruanda (de Terry George, 2004). Ganhou três indicações ao Oscar, foi muito elogiado pela crítica internacional e ainda assim não chegou ao Brasil. Previsão de estréia: 12 de agosto.

- Sin City (de Robert Rodriguez e Frank Miller, 2005). Provavelmente o filme mais elogiado deste primeiro semestre. Estreou em 1 de abril nos EUA e faturou mais de US$ 70 milhões. Finalmente chega aos cinemas brazucas na semana que vem, dia 29 de julho, depois de muita espera.

- Crash (de Paul Higgins, 2005). Um acidente de carro reúne um grupo de estranhos em Los Angeles. Estreou em maio nos EUA, e ainda não tem data de lançamento prevista para o Brasil. É um dos poucos filmes já lançados que deve estar na corrida pelos prêmios de final de temporada. As performances de Matt Dillon, Sandra Bullock e Thandie Newton vêm recebem ótimos comentários.

- Cinderella Man (de Ron Howard, 2005). Russel Crowe e o diretor Ron Howard encontram-se novamente neste filme sobre a vida do boxeador Jim Braddock. Apesar de ter sido um inesperado fracasso de bilheteria, foi bastante elogiado pela crítica americana. Ainda conta com as presenças sempre interessantes de Renée Zellweger e Paul Giamatti. No Brasil, o filme ganhou o péssimo título de A Luta Pela Esperança e tem data prevista de lançamento para 9 de setembro.

- La Marche de l'empereur (de Luc Jaquet, 2005). Documentário sobre a vida dos pingüins-imperadores, os maiores da espécie. Esteve nos festivais de Sundance e Seattle e parece ser bem interessante (para quem gosta de documentários). Vamos torcer para que chegue aos cinemas brasileiros.

- 2046 (de Kai War Wong, 2004). Continuação do cultuado Amor à Flor da Pele. Além de Maggie Cheung e Tony Leung (que estavam no primeiro filme), essa seqüência ainda traz no elenco as ótimas Gong Li e Zhang Ziyi. Ainda nem estreou nos EUA e sabe-se lá quando chegará ao Brasil (se chegar).

quinta-feira, julho 14, 2005

Aqui estão as indicações para o Emmy 2005.

Mais tarde faço um comentário mais completo, mas já dá pra dizer o seguinte:

- Desperate Housewives e Will & Grace ganharam 15 indicações cada uma e lideram entre as séries de comédias;

- Entre as séries dramáticas, a liderança é de Lost, com 12 indicações;

- Três Desperate Housewives receberam indicações para Melhor Atriz Comédia: Marcia Cross, Teri Hatcher e Felicity Huffman. Eve Longoria mais uma vez ficou de fora. A surpresa ficou por conta de Nicolette Sheridan que também não foi indicada na categoria de Atriz Coadjuvante;

- Veronica Mars não foi indicada pra nada... Assim como Gilmore Girls. Esses dois shows merecem mais atenção;

- Jennifer Garner (Alias) ganhou sua quarta indicação e como Alisson Janney (de The West Wing) não foi indicada, acho que Garner tem chances de ficar com o prêmio. Por outro lado, nem Victor Garber nem Ron Rifkin receberam indicações;

quarta-feira, julho 13, 2005

Emmy!

Amanhã saem as indicações ao Emmy, prêmio máximo da TV norte-americana. Aqui estão as minhas previsões nas principais categorias:

- Melhor Série Dramática:
24 Horas (Seg, 21h, Fox)
CSI: Crime Scene Investigation (Ter, 21h, Sony)
Deadwood
Lost (Seg, 20h, AXN)
The West Wing (Sex, 22h, Warner)

- Melhor Série Comédia:
Arrested Development
Desperate Housewives (Qui, 21h, Sony)
Everybody Loves Raymond (Sex, 19h/23h, Sony)
Entourage
Two and a Half Men (Ter, 20h30, Warner)

Acho que a coisa é por aí. Eu, particularmente, vou estar torcendo por:

- Alias
- Desperate Housewives
- Veronica Mars
- 24 Horas
- Gilmore Girls

- Marcia Cross (Desperate Housewives)
- Kristin Bell (Veronica Mars)
- Jennifer Garner (Alias)
- Mia Maestro (Alias)
- Lauren Graham (Gilmore Girls)

- Victor Garber (Alias)
- Ron Rifkin (Alias)
- Kiefer Sutherland (24)
- Steven Culp (Desperate Housewives)

segunda-feira, julho 11, 2005

O Retorno (de Andrei Zvyagintsev, 2003)
Esse fim-de-semana vi no DVD um filme bem interessante chamado O Retorno. É um filme russo que esteve em alguns festivais de cinema e acabou ganhando o Leão de Ouro em Veneza em 2003. Conta história de um pai que volta para casa depois de 12 anos sumido e leva os dois filhos adolescentes para uma estranha pescaria. Não há pistas sobre onde esteve o pai e porquê ele voltou. A estranheza dos filhos é a nossa própria, e assim o filme continua até o final dramático. É um filme muito duro, em que as esperanças juvenis batem de frente com as atrocidades do mundo adulto. Como eu já tinha falado antes (no comentário sobre A Vida Marinha), aqui o tema da família aparece novamente sob a ótica do cinema. Prestem atenção na belíssima fotografia e na interpreção do filho mais novo, o jovem Ivan Dobronravov. Nota: A-
Gotinhas:
- Parece que vai sair mesmo um remake do clássico Crespúsculo dos Deuses, com Glenn Close e Ewan MacGregor nos pápéis principais. Apesar deste novo filme ser adaptado a partir do musical de Andrew Lloyd Webber, ainda acho que é uma péssima idéia.
- Syriana, com George Cloonney e Matt Damon, foi adiado para 2006...
- Quinta saem às indicações para o Emmy 2005. Estou preparando minha listas de previsões para o prêmio mais importante da televisão americana. Aguardem!
Música do dia: The Man Who Would Be King, The Libertines
Dica de filme: Crepúsculo dos Deuses (de Billy Wilder, 1950) - clássico, clássico, clássico!

quarta-feira, julho 06, 2005

A Vida Marinha com Steve Zissou (de Wes Anderson, 2004)
Wes Anderson é um mestre da bizarrice. Quem viu Os Excêntricos Tenenbaums já sabia disso. Mas eu não sou fã do diretor e acho Tenenbaums um pouco superestimado (overrated). De forma que fiquei positivamente surpresa com A Vida Marinha, que acabou não recebendo tantos elogios da crítica especializada quanto os primeiros filmes do diretor, mas ainda assim é um ótimo filme. Assim como em seu filme anterior, Anderson volta a falar de famílias problemáticas e desestruturadas (esse parece ser o grande tema do início do século XXI). O interessante é que dessa vez não se trata de uma família de laços sanguíneos. A equipe de Zissou é formado pelos mais estranhos e diferentes tipos e ali está uma família das mais disfuncionais. O desgastado aventureiro que não sabe mais o quê fazer depois da morte do melhor amigo, o filho em busca de um pai, a repórter grávida em busca de um pai para o seu filho, o estranho alemão que já na meia idade procura um pai, são todos exemplos de seres absolutamente carentes. Outra coisa, fiquem atentos na trilha sonora. As músicas foram compostas pelo David Bowie e traduzidas para o português (isso mesmo) pelo ótimo Seu Jorge, que também atua no filme. Sem dúvida, um dos melhores filmes de 2004. Nota: A.

Batman Begins (de Christopher Nolan, 2005)
Mais do mesmo? Definitivamente não. Este Batman é uma interessante abordagem sobre um dos personagens mais famosos das histórias em quadrinhos, ainda que não traga nada de muito original ou novo. O ponto alto do filme é justamente a tentativa de aprofundar a origem do personagem, e a excelente interpretação de Christian Bale no papel principal permite que Batman se torne não apenas mais um super-herói escondido por de trás de uma máscara, mas também um homem cheio de dúvidas e medos. O habitualmente canastrão Michael Caine também está muito bem na pele do mordomo Alfred (aliás, bem mais interessante aqui do que nos outros filmes do morcegão). Prestem atenção em Cillian Murphy, que interpreta o Espantalho/Dr. Crane, e no sempre intrigante Gary Oldman. Pena que Nolan não é nenhum Tim Burton. Eu continuo preferindo Batman – O Retorno, com os maravilhosos Penguim e Mulher-Gato. Nota: B

Gotinhas:

- Boa notícia: Dark Water, novo filme de Walter Salles, estréia sexta-feira nos EUA e vêm recebendo boas críticas por lá. Trata-se de uma refilmagem de um filme de terror psicológico japonês, com Jennifer Connelly no papel da mãe após ganhar a guarda da filha numa batalha judicial muda-se para um novo e estranho apartamento. Dark Water deve estrear no Brasil em agosto.

- Finalmente começaram as filmagens do novo filme de Steven Spielberg, ainda sem nome definitivo. Estrelando Eric Bana, Daniel Craig e Geoffrey Rush, o filme conta a história por trás do atentados anti-semitas ocorridos nos Jogos Olímpicos de Munique-72. A previsão é de que o filme chegue aos cinemas americanos ainda em 2005.

Música do dia: Take Me Out, de Franz Ferdinand.

Dica de Filme: Amor Maior Que a Vida (de Keith Gordon, 1999)

sexta-feira, julho 01, 2005

Sobre Heróis e Tumbas, de Ernesto Sábato.
Se por alguma razão estranha eu fosse abrigada a viver em uma ilha deserta, mas tivesse a oportunidade de levar apenas um livro comigo, não tenho dúvidas de que escolheria Sobre Heróis e Tumbas, a obra-prima do escritor argentino Ernesto Sábato. Embora seja um emaranhado de vozes narrativas e linhas temáticas, Sobre Heróis e Tumbas é um calhamaço de mais de 600 páginas cujo tema central parece ser sempre o mesmo: a incomunicabilidade entre os seres humanos e a loucura que nasce justamente a partir dessa problemática. Este, na verdade, é um tema recorrente na obra de Sábato. Em O Túnel (outro livro memorável), o autor já discute as dificuldades dos relacionamentos interpessoais. Em ambos os livros, os personagens vagam entre o limite do são e da loucura, carregando um pouco de cada em si. Em poucas palavras, Sobre Heróis e Tumbas narra o encontro do problemático Martín com a misteriosa Alejandra, uma jovem belíssima atormentada pela figura do pai ausente. A partir disso, Sábato traça um paralelo com uma porção de outras histórias, incluindo o famoso e perturbador “Relatório Sobre os Cegos”. Publicado pela primeira vez em 1961, Sobre Heróis e Tumbas tem a qualidade das grandes obras: permanece atual, mesmo passados mais de 40 anos de seu lançamento. Mais do que isso, sua belíssima narrativa ainda desperta as mais variadas emoções após várias releituras. Sábato é um mestre em histórias trágicas e personagens angustiados, e seu estilo furioso exige do leitor uma dedicação mais do que atenta. Não se trata de uma leitura fácil; pelo contrário, em muitos momentos a narrativa é quase incompreensível, deixando muitas perguntas ficam sem resposta. Enredado numa trama cheia de sentidos e leituras diferentes, o leitor é absolutamente dominado pela narrativa de Sábato e fica difícil parar de ler.