sábado, julho 16, 2005

A Queda (de Oliver Hirschbiegel, 2004)
Finalmente reuni minhas forças e abocanhei uma oportunidade de ver esse filme. Na Alemanha e em outros lugares, A Queda foi muito criticado por ter ‘humanizado’ a figura odiosa de Hitler. Pois, surpresa, o ditador sanguinário também era um homem. E é justamente aí que mora o perigo. Seria muito mais fácil e simples classificar Hitler, Goebbels e seus comparsas nazistas como máquinas de matar ou vilões de histórias infantis, em que o maniqueísmo é parte natural da própria trama. Não, no mundo real, as coisas são bem mais complexas e profundas, e, por isso mesmo, bem mais assustadoras. Infelizmente, Hitler não era um robô, um alienígena, um ser de outro mundo. Ele era sim um fanático, um fundamentalista, um homem sedento pelo poder e com uma idéia fixa na cabeça: os fracos e os judeus devem ser exterminados. A cena em que ele discursa durante um jantar falando sobre a compaixão é um dos momentos mais perturbadores que já vi no cinema. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que mostra uma relação afetiva do ditador com sua secretária, ‘humanizando-o’, diriam alguns, o filme não titubeia em mostrá-lo como louco, com seus discursos furiosos, marcados pelo ódio e pela intolerância. A impressionante interpretação de Bruno Ganz realça cada aspecto mínimo do caráter de Hitler, construindo um ser assustador e demente.

Eu queria falar um pouco também sobre Magda Goebbels, esposa do infame Joseph Goebbels. Magda Goebbels matou cada um dos seus filhos (numa cena absolutamente inquietante) porque não conseguia imaginá-los num mundo sem o ‘nacional-socialismo’ (ou seja, o nazismo e a sua sede por destruição). Seria natural descrevê-la como um monstro, que odeia seus filhos, mas o surpreendente (conforme mostra o filme) é que ela ama sim os filhos, tem orgulho deles, e, no entanto, envenena-os em nome de sua crença, do seu fanatismo pelo Füher e pelo nazismo. Isso é assustador.

Num momento em que o mundo regride décadas e décadas cada vez que civis são mortos em nome do fundamentalismo religioso (veja bem, seja por obra de fundamentalistas islâmicos, seja por obra de fundamentalistas cristãos protestantes instalados na Casa Branca), A Queda é um filme obrigatório para entender como o fanatismo e a intolerância podem destruir nações inteiras. Essa foi a tragédia da 2a Guerra Mundial. E é essa a mesma tragédia dos dias atuais.

Nota: A