quinta-feira, novembro 09, 2006



Volver (de Pedro Almodóvar, 2006)

Após a decepção que tive com A Má Educação, esperei o novo filme de Almodóvar com um pouco menos de ansiedade. Embora não seja superior a Tudo Sobre Minha Mãe, Carne Trêmula e Fale com Ela, Volver é um belo filme sobre a morte e os abusos que as mulheres freqüentemente sofrem. Como todo típico filme do diretor espanhol, Volver mistura com maestria humor escrachado e drama altamente eficiente (veja por exemplo a seqüência em que Agustina vai ao programa de TV). Além da direção, os destaques ficam por conta da ótima trilha sonora de Alberto Iglesias (um dos melhores compositores da atualidade) e da surpreendente e comovente atuação de Penélope Cruz (nunca gostei dela...). Aqui, é a personagem de Raimunda (Cruz) que segura o filme de ponta a ponta, não apenas por ser a protagonista, mas por ser a personagem que, em última instância, faz a jornada completa, o volver do título (além, claro, do fantasma da mãe que volta dos mortos). Aliás, a seqüência inicial, no cemitério, é genial e parece resumir bem o talento de Almodóvar em entremear humor e drama, aspectos regionais e aspectos universais, o pequeno drama íntimo e a grande história que afeta toda a comunidade. A qualidade da obra do diretor está justamente em fazer do regional, pitoresco e, muitas vezes, bizarro aquilo que nos comove mesmo em realidades tão diferentes quanto às do povoado espanhol. Volver é um filme coeso, redondinho, com algumas passagens geniais, mas falta alguma coisa que sobra em, principalmente, Tudo Sobre Minha Mãe. Não sei bem o que é, mas estou pensando nisso... Nota: A

sábado, novembro 04, 2006


Um mês que eu não posto aqui (acontecimentos importantes nos últimos tempos, enfim...). Alguns dos filmes que eu vi:
- Elsa & Fred (de Marcos Carnevale, 2005): filme argentino divertidíssimo sobre um casal de velhinhos. Achei que seria mais um daqueles romances sobre idosos e morte, mas não, o filme é muito engraçado e a atriz que faz Elsa, China Zorrila, está estupenda e vale o preço do ingresso. Nota: A-
- O Grande Truque (de Christopher Nolan, 2006): Nolan é um bom diretor (vide Amnésia e Batman Begins), mas aqui ele se perde um pouco num roteiro marcado por inúmeras, e cansativas, reviravoltas, que tornam o filme mais longo do que, na verdade, é. Ainda assim, vale pelas presenças de Christian Bale e Hugh Jackman e pelo interessante paralelo com o cinema. Nota: B
- Café da Manhã em Plutão (de Neil Jordan, 2005): Dois pontos importantes aqui - a grande atuação de Cillian Murphy e a escolha por um tema absolutamente atual, o transexualismo. Como sempre, o ótimo Neil Jordan mistura elementos de comédia e drama com bastante sabedoria, e a figura tragicômica do protagonista se encaixa com perfeição no típico personagem do diretor: os outcasts, os marginalizados pela sociedade. O filme tem um quê de drama denso e até pesado, mas nunca perde a oportunidade para fazer comédia (o que, em alguns casos, sempre cai bem). Destaque ainda para a ótima trilha sonora e os figurinos caprichados. Nota: A
- A Liberdade é Azul (de Krzysztof Kieslowski, 1993): a primeira parte da trilogia das cores também é a mais depressiva. Interessante que o diretor polonês tenha escolhido um tema tão positivo como liberdade justamente em uma história tão trágica (a personagem de Juliette Binoche perde marido e filha em um acidente de trânsito). Belíssimamente fotografado, A Liberdade é Azul é um daqueles filmes obrigatórios para qualquer cinéfilo. É um filme lento, para contemplação, em que o espectador é levado para dentro da nova realidade de Julie, que após a perda daqueles que são sua vida mostra-se incapaz de reagir ou demonstrar qualquer sentimento (nem suicídio ela consegue cometer). Decide então isolar-se do mundo, mas só encontra a liberdade quando passa a construir novos significados de coisas que já estavam lá desde o princípio. E o próprio espectador é convidado a participar desta jornada. Ainda que A Fraternidade é Vermelha seja o melhor da trilogia, A Liberdade é Azul tem duas qualidades inegáveis: a atuação maravilhosa de Juliette Binoche e as várias possibilidades que o roteiro abre, não só pelo final indefinido, mas pelos inúmeros significados que os enquadramentos, música e imagens parecem evocar. Nota: A+
Semana que vem: Volver, novo do Almodóvar, e Os Infiltrados, novo do Scorsese.