sexta-feira, outubro 26, 2007


People - Histórias de Nova York (The Great New Worderful, 2005) - ***/*****

O cinema norte-americano começa aos poucos a retratar um dos momentos mais angustiantes de sua história: o 11 de setembro. É uma pena, contudo, que este "People - Histórias de Nova York" tente de forma equivocada colar sua história com a do 11/9. Embora se passe em Nova York, em setembro de 2002, portanto, um ano após os trágicos acontecimentos, "People" fala muito mais sobre o estado das coisas neste início de século, ou seja, de forma geral, sobre nossa angústia, raiva reprimida e falta de comunicação, do que propriamente da vida nova-iorquina pós-11 de setembro. Não há razão nenhuma no filme para dizer que se trata de uma história sobre o pós-11 de setembro (parece, na verdade, que tenta se aproveitar desta suposta conexão). Dito isso, o filme tem bons momentos, principalmente nas histórias envolvendo as personagens de Maggie Gyllenhaal (a dona da confeitaria de bolos), Olympia Dukakis (a senhora que leva uma vida monótona com o marido) e Judy Greer (a esposa que não sabe lidar com o filho problemático) - e essas três partes do roteiro mereciam ser melhor desenvolvidas. Há boas cenas, bons momentos do roteiro e até alguma profundidade, mas o filme esbarra na total falta de cruzamento das histórias. Além disso, muitas cenas simplesmente não acrescentam nada. Um filme um tanto desequilibrado.

domingo, outubro 14, 2007



Tropa de Elite (2007)

Tropa de Elite é o filme mais comentado do momento, embora eu pareça ter sido umas das únicas pessoas que viu o filme no cinema. A pergunta que todos estão se fazendo é: afinal, Tropa de Elite é fascista ou não é? Acho que a coisa é bem mais complicada do que isso. Não acho que por mostrar a visão do Bope, e não das "vítimas", o filme se torne fascista. O problema está nas mentes daqueles que querem respostas fáceis. Os métodos e a violência empregada pelo Bope são uma resposta fácil pra quem, como todos nós, são reféns diários do caos brasileiros. O grande mérito do filme é mostrar, na verdade, a tragédia brasileira atual: estamos num túnel sem saída. Apesar disso, "ir à guerra", subir o morro e dizimar "o problema", não pode ser a única solução possível. Idolatrar o capitão Nascimento (Wagner Moura, o melhor ator brasileiro na atualidade) também não é solução. Nascimento não é herói. Mesmo em conflito, ele jamais questiona os métodos do Bope, que tortura, humilha e mata a seus próprios critérios. Lembrando a ótima crítica do Pablo Villaça sobre o filme, se alguns de nós vibram nas cenas de tortura e torcem para que Matias (o ótimo André Ramiro) faça mesmo o que ele faz na última cena do filme, é apenas porque sabemos que os torturados, mortos e agredidos são mesmos os bandidos. Não tenho nada contra torcer pelo politicamente incorreto, afinal, cinema é ficção... Mas trazer certas conclusões para a realidade pode ser bastante perigoso. Aliás, embora seja um bom filme, acho que o problema de Tropa de Elite está justamente no off excessivo do personagem de Wagner Moura. A narração muita vezes impede que o espectador tire suas próprias conclusões. Ainda assim, filme obrigatório. E no cinema! Nota: 4 estrelas

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Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, 2007)

Admito que pouco conhecia sobre a vida e a obra de Edith Piaf. Foi com surpresa, portanto, que me vi absolutamente apaixonada por esta personagem. "Piaf - Um Hino ao Amor", o filme, é sobretudo a brilhante interpretação de Marion Cotillard. Memorável, emociante, perfeita, a atriz é o próprio filme. Vale totalmente o ingresso. Ainda que "Piaf - Um Hino ao Amor" seja apenas mediano e tenha falhas óbvias (como as lacunas da vida da cantora que nunca são respondidas pelo roteiro e que, de fato, até parecem ter sido escondidas pelo filme), Cotillard é sublime e uma intérprete à altura do talento da verdadeira Piaf.

Nota: 4 estrelas

quinta-feira, novembro 09, 2006



Volver (de Pedro Almodóvar, 2006)

Após a decepção que tive com A Má Educação, esperei o novo filme de Almodóvar com um pouco menos de ansiedade. Embora não seja superior a Tudo Sobre Minha Mãe, Carne Trêmula e Fale com Ela, Volver é um belo filme sobre a morte e os abusos que as mulheres freqüentemente sofrem. Como todo típico filme do diretor espanhol, Volver mistura com maestria humor escrachado e drama altamente eficiente (veja por exemplo a seqüência em que Agustina vai ao programa de TV). Além da direção, os destaques ficam por conta da ótima trilha sonora de Alberto Iglesias (um dos melhores compositores da atualidade) e da surpreendente e comovente atuação de Penélope Cruz (nunca gostei dela...). Aqui, é a personagem de Raimunda (Cruz) que segura o filme de ponta a ponta, não apenas por ser a protagonista, mas por ser a personagem que, em última instância, faz a jornada completa, o volver do título (além, claro, do fantasma da mãe que volta dos mortos). Aliás, a seqüência inicial, no cemitério, é genial e parece resumir bem o talento de Almodóvar em entremear humor e drama, aspectos regionais e aspectos universais, o pequeno drama íntimo e a grande história que afeta toda a comunidade. A qualidade da obra do diretor está justamente em fazer do regional, pitoresco e, muitas vezes, bizarro aquilo que nos comove mesmo em realidades tão diferentes quanto às do povoado espanhol. Volver é um filme coeso, redondinho, com algumas passagens geniais, mas falta alguma coisa que sobra em, principalmente, Tudo Sobre Minha Mãe. Não sei bem o que é, mas estou pensando nisso... Nota: A

sábado, novembro 04, 2006


Um mês que eu não posto aqui (acontecimentos importantes nos últimos tempos, enfim...). Alguns dos filmes que eu vi:
- Elsa & Fred (de Marcos Carnevale, 2005): filme argentino divertidíssimo sobre um casal de velhinhos. Achei que seria mais um daqueles romances sobre idosos e morte, mas não, o filme é muito engraçado e a atriz que faz Elsa, China Zorrila, está estupenda e vale o preço do ingresso. Nota: A-
- O Grande Truque (de Christopher Nolan, 2006): Nolan é um bom diretor (vide Amnésia e Batman Begins), mas aqui ele se perde um pouco num roteiro marcado por inúmeras, e cansativas, reviravoltas, que tornam o filme mais longo do que, na verdade, é. Ainda assim, vale pelas presenças de Christian Bale e Hugh Jackman e pelo interessante paralelo com o cinema. Nota: B
- Café da Manhã em Plutão (de Neil Jordan, 2005): Dois pontos importantes aqui - a grande atuação de Cillian Murphy e a escolha por um tema absolutamente atual, o transexualismo. Como sempre, o ótimo Neil Jordan mistura elementos de comédia e drama com bastante sabedoria, e a figura tragicômica do protagonista se encaixa com perfeição no típico personagem do diretor: os outcasts, os marginalizados pela sociedade. O filme tem um quê de drama denso e até pesado, mas nunca perde a oportunidade para fazer comédia (o que, em alguns casos, sempre cai bem). Destaque ainda para a ótima trilha sonora e os figurinos caprichados. Nota: A
- A Liberdade é Azul (de Krzysztof Kieslowski, 1993): a primeira parte da trilogia das cores também é a mais depressiva. Interessante que o diretor polonês tenha escolhido um tema tão positivo como liberdade justamente em uma história tão trágica (a personagem de Juliette Binoche perde marido e filha em um acidente de trânsito). Belíssimamente fotografado, A Liberdade é Azul é um daqueles filmes obrigatórios para qualquer cinéfilo. É um filme lento, para contemplação, em que o espectador é levado para dentro da nova realidade de Julie, que após a perda daqueles que são sua vida mostra-se incapaz de reagir ou demonstrar qualquer sentimento (nem suicídio ela consegue cometer). Decide então isolar-se do mundo, mas só encontra a liberdade quando passa a construir novos significados de coisas que já estavam lá desde o princípio. E o próprio espectador é convidado a participar desta jornada. Ainda que A Fraternidade é Vermelha seja o melhor da trilogia, A Liberdade é Azul tem duas qualidades inegáveis: a atuação maravilhosa de Juliette Binoche e as várias possibilidades que o roteiro abre, não só pelo final indefinido, mas pelos inúmeros significados que os enquadramentos, música e imagens parecem evocar. Nota: A+
Semana que vem: Volver, novo do Almodóvar, e Os Infiltrados, novo do Scorsese.

sexta-feira, setembro 29, 2006


O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006)
Certos filmes, mesmo os que não trazem nada de novo, conseguem ser bem sucedidos (tanto junto à critica especializada quanto ao grande público) porque combinam uma proposta honesta com boa execução. O Diabo Veste Prada talvez tenha sido a maior surpresa do concorrido verão norte-americano, e o filme realmente não decepciona, mesmo para quem não é fã do mundo da moda. Claro que o show pertence à Meryl Streep, em uma atuação memorável (sua melhor performance em anos). Mesmo sendo a vilã indiscutível, com traços de Cruella de Vil, Meryl nunca deixa de compor uma personagem multidimensional, e, portanto, verossímel. Mas o roteiro também se sustenta pela ótima participação do veterano Stanley Tucci, um ator que raramente recebe os elogios que merece. Anna Hathaway, não compromete, embora lhe falte um pouco mais de charme. Enfim, um filme divertido, leve, bem humorado, perfeito para uma tarde de sábado despretenciosa no cinema. Nota: A-

domingo, setembro 10, 2006

Ter de trabalhar domingo às 7 da manhã até que ajuda às vezes: obriga a pessoa a ficar em casa sábado de noite vendo filmes na TV. Consegui rever dois dos meus filmes favoritos: Cidades dos Sonhos (Mulholland Drive, do David Lynch) e Carne Trêmula (do Almodóvar). O primeiro é um clássico do cinema surrealista do Lynch. Adoro, embora faça quase nenhum sentido aparente. Não é interessante? Um monte de peça solta e contudo o filme é emocionante, envolvente, triste, instigante... E traz uma das maiores atuação da história (sem exageros): Noami Watts é um monstro nesse filme. Eu gosto de Cidades dos Sonhos justamente porque é uma colcha de retalhos que funciona perfeitamente porque David Lynch tem o absoluto domínio sobre sua obra. E gosto ainda mais porque nos faz lembrar que cinema é sobretudo uma arte; ou seja, não precisa necessariamente fazer sentido para nos emocionar. Já Carne Trêmula é um filme bem menos pretensioso, mas é o meu Almodóvar preferido (Tudo Sobre Minha Mãe vem logo em seguida). Grandes atuanções, drama de primeira, direção impecável, um diagnóstico interessante sobre a Espanha atual e um jogo intrincado de personagens. Imperdível.
Nessa semana, assisti ainda o australiano Sob Efeito da Água (Little Fish, 2005) - aliás, péssimo nome em português. O grande elenco, encabeçado pelos ótimos Cate Blanchett e Hugo Waeving, é o melhor aspecto do filme, prejudicado por um roteiro confuso e pretensioso. É um filme confuso que não deveria sê-lo. Nota: B-

quarta-feira, agosto 30, 2006


Ok, mais uma da série 'coisas que só a sua irmã descobre pra você': Holly Golightly. Mais do que o nome da personagem de Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo (aliás, imperdível), Holly Golightly é o nome da artista do álbum aí em cima: My First Holly Golightly Album. O disco é uma mistura de folk, blues e soul e um pouco de rock. Já valeria pela capa extremamente inspirada, mas as músicas são muito boas mesmo. Destaco "Nothing You Can Say", "Wherever You Were" e "Mother Earth". Acho que não foi lançado no Brasil, mas dêem uma procurada na internet. O site da artista é http://www.hollygolightly.com/