sexta-feira, novembro 18, 2005

Marcas da Violência (de David Cronenberg, 2005)
Tom Stall (Viggo Mortensen) é um pacato comerciante americano, bem casado e pai de duas lindas crianças. Enfim, uma vida perfeita. Mas será mesmo? A vida de Tom começa a ruir quando ele mata dois bandidos que tentam roubar seu pequeno restaurante, ameaçando alguns clientes. Através de uma trama simples, o talentoso diretor David Cronenberg discute com bastante competência dois assuntos muito interessantes: a violência e a própria natureza humana. A violência do título é aquela que infiltra cada vez mais na nossa casa e se expressa em cada mínimo detalhe, e aqui, o roteiro tem a inteligência de colocar a violência em todos os aspectos do cotidiano: na escola, nas relações pai e filho e até mesmo misturando-a ao sexo, numa das cenas mais bem construídas do filme. Aliás, é emblemático e irônico perceber também que a solução do filme, a solução para o problema da violência que persegue Tom, reside justamente no uso da violência; ou seja, para escapar da violência que pode destruir sua vida, Tom usa da própria violência. Seria, então, a violência algo absolutamente essencial da natureza humana? Sabiamente, Marcas da Violência não é um filme panfletário, não há uma tese, o espectador que quer respostas para suas questões sairá decepcionado. O que o roteiro faz é simplesmente contar uma história, a história de um homem que não consegue se desvencilhar do seu passado. Talvez seja esse o grande tema do filme: quem somos, na realidade? Nossos nomes? Nossos erros? Nosso passado? É possível mesmo começar de novo?
Ouvi alguns comentários a respeito da estrutura do filme, de que Cronenberg teria conduzindo a história de forma muito convencional, inclusive exagerando nos momentos iniciais em que a "felicidade" da família Stall é estabelecida. Eu justamente acho que é essa a intenção do diretor: Cronenberg está o tempo inteiro brincando com o conceito do "american way of life", com o jogo de aparências da sociedade americana.
Mas, enfim, excelente filme, conduzindo por um Cronenberg bastante contido, mas ainda assim muito competente. O ponto alto sem dúvida são as interpretações de todo elenco, principalmente o casal de protagonistas: Viggo e Maria Bello. Imperdível. Nota: A