domingo, janeiro 29, 2006



Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice, de Joe Wright, 2005)
Adaptações literárias podem gerar três tipos de filmes: os ruins; os bons, mas inferiores à obra original; e aqueles que conseguem se tornar uma obra independente do livro. A diferença entre os dois primeiros e o terceiro reside num fato bastante singelo e até óbvio, alguns diriam. Entender que literatura e cinema são meios absolutamente diferentes e, portanto, devem ser tratados de forma diferente, é o primeiro passo para fazer um filme que sobreviva à comparação com o livro. Se em Orgulho e Preconceito (o livro) é a inteligência mordaz de Jane Austen que nos surpreende, sua vitalidade, o jogo de palavras, os sub e os mal-entendidos, no filme a coisa terá de ser diferente. E não é que, apesar de todas as minhas reticências iniciais, o filme sai-se muitíssimo bem? E isso se dá basicamente porque, além de um elenco muito competente (inclusive a sonsa da Keira Knightley está fantástica), o diretor Joe Wright e o diretor de fotografia Roman Oshin entendem que o cinema é feito, sobretudo, de imagens. Poucas vezes vi um filme tão bem fotografado e iluminado. O filme é de uma delicadeza e de uma sensibilidade impressionantes. Mesmo em cenas internas, a fotografia é de tirar o fôlego. É justamente essa força imagética que torna o filme Orgulho e Preconceito uma obra que está além do livro. Não é apenas uma adaptação literária, mas um filme completo, uma obra plena em si mesma. Certamente serei obrigada a vê-lo por uma segunda vez. E recomendo enormemente o soberbo livro de Jane Austen. Nota: A+
=> Orgulho e Preconceito chega aos cinemas brasileiros no dia 10 de fevereiro.

Munique (Munich, de Steven Spielberg, 2005)
Há diversas formas de falar sobre o novo filme de Spielberg. Mas vou me deter a falar de duas delas. Do ponto de vista político, Munique é um filme bastante corajoso, talvez o mais corajoso e engajado da carreira do diretor. Aqui, vemos um Spielberg diferente, desnudo do sentimentalismo que muitas vezes acaba compromento seu trabalho mais recente (como em Guerra dos Mundos e Inteligência Artificial). Isso tudo porque, além de não se desviar para a fácil jornada das emoções rasteiras, Spielberg dirige um filme que claramente clama pelo caminho do entendimento nas relações entre palestinos e israelenses ao invés de justificar a violência de ambos os lados. Munique é, antes de mais nada, um apelo pelo entendimento, pelo perdão. Mas Spielberg, um judeu, foi duramente criticado por humanizar os palestinos e não tratá-los como sórdidos terroristas incapazes de sentir emoções humanas. O fato é que Spielberg não humaniza os terroristas, o que acontece é que seu olhar percebe que há seres humanos dos dois lados do conflito e que a violência que permeia seus mundos só pode gerar mais violência. Já do ponto de vista puramente cinematográfico, o filme falha. Para início de conversa, é excessivamente longo, pelo menos uns 20 minutos poderiam ser retirados. E se Munique acerta quando centra a ação em torno do personagem de Eric Bana (principalmente quando ele começa a perder os nervos), perde-se de forma monumental ao tentar criar um vínculo entre a equipe liderada por ele (que, aliás, parece absolutamente incompetente e amadora). Dessa forma, boa parte do filme é lenta e chata, sem a tensão tão clara de um tema tão explosivo. Pena, porque Spielberg poucas vezes teve nas mãos um material tão interessante. Nota: B+

4 Comments:

Blogger Isabela Vieira said...

Concordo que tem boas cenas e a fotografia (como sempre) é excelente, mas eu achei o filme chato, entendiante, pricipalmente durante as tais missões. Munique é um boa drama psicológico, mas como thriller de ação é fraco.

2:04 AM  
Anonymous Anônimo said...

Meu Deus, preciso arrajar tempo para ir a Campinas assistir a Munique. A cada nota ou crítica que leio, fico mais fascinado.

Queria abrir parênteses aqui para dizer que só hoje(depois de alguns meses) descobri que é você quem faz o quadro Ligações Perigosa do CCena. Que coicidência.
Abraços

3:02 PM  
Blogger Isabela Vieira said...

Com certeza vá ver o filme. Munique, pelo elenco e pelo tema, é o tipo de filme que merece uma chance, mesmo que alguns comentários não sejam bons.

Pois é, sou eu mesma que faço o quadro Ligações Perigosas. Quem saber que vc é ouvinte do podcast e leitor do blog.

Apareça sempre!

beijos

11:55 PM  
Blogger Isabela Vieira said...

Reparo: no meu comentário aí de cima, onde lê-se "quem saber", leia-se "que bom saber".

11:56 PM  

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