terça-feira, setembro 27, 2005

Fazendo cinema nos EUA
Uma das tendências do atual cinema americano parece ser a incapacidade em lidar com assuntos contemporâneos. Se nos anos 60 e 70 a guerra do Vietnã e o conturbado mandato de Nixon ajudaram a produzir alguns dos filmes mais importantes da história do cinema (como Táxi Driver, Apocalypse Now, O Franco Atirador, entre outros), a atual situação de conflito e a própria administração Bush não têm sido adequadamente discutida pelos cineastas americanos. Diretores renomados como Martin Scorsese e Oliver Stone (responsáveis por filmes controversos e ousados, que sabiam discutir a atualidade) estão buscando inspiração no passado. E não são os únicos, o mesmo acontece com Terrence Malick e Steven Spielberg. Mesmo diretores normalmente ousados estão procurando refugio no passado: Todd Haynes foi buscar nos anos 50 a inspiração para Longe do Paraíso, enquanto Gus Van Sant ainda está discutindo os anos 90. Diretores mais jovens, como Wes Anderson, Spike Jonze e Sofia Coppola, também não estão muito interessados em discutir assuntos como o 11 de setembro, a guerra no Iraque e a cada vez mais patente desconsideração dos direitos civis nos EUA. Por que será que os cineastas americanos não estão enxergando aquilo que está bem embaixo dos seus narizes? A resposta não é fácil, mas com certeza está relacionada com as políticas de sufocação postas em prática pelo governo Bush. Por outro lado, é notável o esforço de cineastas não-americanos em discutir os problemas da "América". O inglês Sam Mendes traz à tona a guerra do golfo em Jarhead; o canadense David Cronenberg discute a violência em A History of Violence; e o taiwanês Ang Lee fala do amor entre dois homens em Brokeback Mountain; todos projetos que devem estreiar no Brasil no final deste ano. Não deixa de ser irônico, portanto, que um dos poucos diretores americanos disposto a discutir temas políticos e sociais seja o conservador Clint Eastwood (tanto em Sobre Meninos e Lobos quanto Menina de Ouro).
Então, fica a pergunta: o que está acontecendo com os cineastas americanos?

2 Comments:

Blogger Gustavo H.R. said...

Olá, Isabela.
Concordo com o que você notou. A analogia com a década de 70 é importante, pois aquela foi a maior fagulha de lucidez do cinema norte-americano em relação às suas causas e problemas pelos quais passavam (ou haviam passado recentemente). Hoje, não há tanto espaço para abordar temas atuais e relevantes em Hollywood.
Mas talvez isso mude um pouco com os dois novos filmes sobre o 11 de Seetembro (o de Oliver Stone e o de Kenneth Lonergan).
Até mais...

11:14 AM  
Blogger Isabela Vieira said...

Oi, Gustavo, valeu pela visita e pelo comentário!

Espero que esses dois filmes consigam, pelo menos, trazer essa discussão à tona. Eu gosto muito de ambos os diretores, mas ainda estou um pouco reticente quanto ao que pode realmente ser feito, o fato é que há muito medo de se tocar no assunto.

1:32 PM  

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